sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Especial: O Poder da Premonição Parte 3 de 5




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OUSADIA
Um dos melhores pesquisadores de sua geração, o psicólogo Daryl J.
Bem transgrediu as regras da academia ao estudar sobre premonição
Num diálogo do livro “Alice no Outro Lado do Espelho”, de Lewis Carroll, a continuação do clássico “Alice no País das Maravilhas”, a Rainha Branca diz à Alice que tem memória nos dois sentidos, para o passado e para o futuro. Tese que a menina considera um absurdo: “Ninguém pode acreditar em coisas impossíveis”, rebate. A soberana, no entanto, explica que é somente uma questão de prática e a aconselha a imaginar ao menos seis coisas impossíveis antes mesmo do café da manhã. Menos cético que a carismática personagem, o renomado professor americano Daryl J. Bem, um dos mais proeminentes pesquisadores de psicologia de sua geração, segundo o “The New York Times”, ousou deixar de lado a regra silenciosa que paira sobre o ambiente acadêmico, segundo a qual tudo o que foge de uma explicação racional deve ser solenemente ignorado. E desobedeceu a esse hermetismo em grande estilo, ao investigar a capacidade humana de antever o futuro, popularmente conhecida como premonição. Tal qual a Rainha Branca, ele crê na memória com a seta indicando para a frente.
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ESTUDO
O procurador aposentado Valter Borges montou um
instituto de pesquisa após a premonição da morte do filho
O mais recente estudo de Bem, publicado no “Journal of Personality and Social Psychology”, da Associação Americana de Psicologia, teve um efeito explosivo sobre a comunidade internacional. Menos por seu conteúdo, também bastante surpreendente, e mais pelas credenciais de seu autor, um notório professor de psicologia da Universidade de Cornell, Nova York, uma das mais prestigiosas dos Estados Unidos. Ele tem mais de 70 artigos publicados e é formado em física pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Até então, os trabalhos sobre as chamadas percepções extrassensoriais, também conhecidas como ESP (sigla em inglês para extrasensory perception) eram considerados menores, pouco científicos. O de Bem e sua equipe quebraram essa escrita. Em sua pesquisa, Daryl J. Bem relata nove experimentos feitos com mais de mil universitários. Os testes, reproduções de estudos clássicos sobre percepção extrassensorial, eram extremamente simples (leia quadro na pág. 50). Neles, os participantes tinham que antever que tipo de imagem iria aparecer no computador ou em qual das duas janelas mostradas na tela iria surgir uma foto. Quando o conteúdo em questão tinha um teor erótico, os estudantes acertavam mais. “Isso entre pessoas comuns, escolhidas de forma aleatória. Meu palpite é de que se eu usar gente mais talentosa, melhor nisso, elas poderão prever qualquer foto”, disse o pesquisador, sem explicar o que quer dizer, ao certo, “gente mais talentosa”.
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CHOQUE
A funcionária pública Erilene Pereira anteviu
dois acidentes de carro, com o filho e o cunhado
Segundo Bem, em oito dos nove experimentos houve um índice de acerto acima do que é considerado coincidência ou obra do acaso. Também foi feito um teste no qual o aluno escolhia se queria arriscar mais nas respostas ou se desistia de tentar. “Os que aceitaram correr mais riscos foram os que tiveram mais acertos”, conta Bem. O psicólogo é cuidadoso ao tirar suas conclusões, mas acredita que todo mundo pode ter capacidades precognitivas, embora uns as tenham mais desenvolvidas do que outros. Também explica que as percepções extrassensoriais são fruto do processo evolutivo no qual antever situações de perigo ou propícias à reprodução se tornaram vantajosas ferramentas de sobrevivência. Isso ajudaria a comprovar a existência de premonições.
Outra pesquisa, feita com universitários brasileiros, mostra que pensamentos premonitórios rondam o inconsciente bem mais do que se imagina. Segundo o trabalho realizado em 2008 na Universidade de São Paulo, 71,5% relataram premonição através de sonhos (leia quadro na pág. 55). No Instituto do Sono, de São Paulo, 30% dos pacientes contam ter sonhado com algo que depois se concretizou. Apesar de ser comum e fazer parte da vida de muitos brasileiros, essa capacidade de antever o futuro ainda é encarada como um grande mistério. Poucos cientistas se dispõem a estudar o tema e, mais do que isso, se recusam a comentá-lo. Lá fora, não é diferente. O artigo produzido em Cornell foi recepcionado com duras críticas. Ray Hyman, professor de psicologia da Universidade de Oregon (EUA), disse ao jornal “The New York Times” que o trabalho é loucura pura. “É um embaraço para a categoria”, atacou. Uma das censuras recebidas foi pelo fato de o professor Bem ter avisado os estudantes de que se tratava de um teste de premonição, o que pode ter influenciado as respostas. O físico Rory Coker, da Universidade do Texas (EUA), um crítico contumaz do que chama “pseudociência”, também fez ressalvas ao colega pesquisador. “A ciência não ignora os fenômenos paranormais, o problema é que tudo o que se vê são estudos feitos para provar aquilo no que se acredita. Dificilmente há resultados significativos e poucos trabalhos são reproduzíveis”, disse à ISTOÉ.

Daryl Bem não é o único acadêmico a colocar a mão nesse vespeiro ao longo da história. Em 1934, o professor Joseph Banks Rhine lançou a primeira edição do livro “Percepção Extrassensorial” a partir de vários testes realizados na Universidade de Duke (EUA). Foi ele quem cunhou o termo “parapsicologia” como o nome da ciência que estuda tais fenômenos. Mais recentemente, em 2001, outro professor de psicologia e neurologia da Universidade do Arizona (EUA), Gary Schwartz, testou em laboratório cinco médiuns, entre eles o mais famoso da tevê americana, John Edwards. No experimento, que foi exibido no Brasil pelo canal pago History Channel, Edwards ficava separado de pessoas que queriam saber sobre seus entes falecidos. Eles não se viam, apenas se ouviam e, como no programa, Edwards apenas confirmava as informações. O índice de acertos, segundo o pesquisador, foi de 83%. Schwartz também já esteve na mira do implacável professor Hyman, de Oregon, que o acusou de forjar resultados. “Muitas vezes na história da ciência nós estávamos errados. Quando achamos que a terra era plana, quando consideramos que o sol girava em torno da terra e tantas outras vezes. Prefiro estar sempre aberto a qualquer possibilidade”, defende-se o professor do Arizona.

Para confirmar as teses dos estudiosos no tema, dezenas de relatos de premonições vêm a público diariamente, manifestados por pessoas comuns – que trabalham, estudam, têm filhos, professam uma religião ou não. Elas costumam ser atropeladas em seu inconsciente por um acontecimento, uma certeza, quase um clarão, que se impõe sobre sua lucidez e se materializa em realidade horas, dias, meses depois, deixando-as, normalmente, assustadas. Roteiro cumprido pela arquiteta Silvia Arruda, de São Paulo. Em fevereiro de 1986, ela sonhou com uma cena de quebradeira no Brasil. Gente falindo, perdendo dinheiro, corrida aos bancos e supermercados. No dia seguinte, o então ministro da Fazenda, Dílson Funaro, anunciou o Plano Cruzado, que congelou o valor de salários, bens e serviços e provocou uma das maiores crises do governo de José Sarney (1985-1990). Vinte anos depois, um novo sonho premonitório, menos, digamos assim, coletivo. A arquiteta viu o então namorado com uma dançarina ruiva de cabelos cacheados. Contou para ele como quem relata uma curiosidade e foi ridicularizada. Pouco tempo depois descobriu que ele estava saindo com uma mulher tal e qual a do sonho. Detalhe: Silvia não é mística e nem sequer acredita em premonição. Ou, ao menos, não acreditava. “Não acho que seja algo sobrenatural, mas sim uma capacidade da mente em captar pensamentos e sensações não ditos”, afirma.
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VISÃO
A gerente de marketing Carolina Oliveira enxergou a separação de um
casal desconhecido, que aconteceu três meses depois
Colocar a mediunidade no mesmo pacote das experiências extrassensoriais é assunto delicado. “A parapsicologia não lida com questões transcendentais, como a comunicação entre vivos e mortos, mas sim com a aptidão humana de manifestar poderes incomuns nas relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo material”, define o procurador de Justiça aposentado Valter da Rosa Borges, de Pernambuco. Nos anos 70, ele criou o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP) para tentar entender esses poderes incomuns, motivado por uma premonição que tivera anos antes. Em 1968, ele perdeu o filho Ulisses, de apenas 4 anos, vítima de um edema pulmonar agudo. “No dia em que ele faleceu, ao sair do apartamento onde eu morava, passei por uma alucinação auditiva. Uma voz me disse, por duas vezes, que meu filho ia morrer naquela tarde”, recorda.
“Não é um fenômeno religioso, não é loucura, paranoia, coincidência nem algo sobrenatural”, argumenta a parapsicóloga Márcia Cobêro, professora do Centro Latino-Americano de Parapsicologia (Clap). “É uma faculdade natural que todos têm, mas poucos se dão conta.” Segundo Márcia, a primeira reação das pessoas que têm premonições é achar que possuem um dom. O segundo passo é temer esse dom. Quando começou a ter premonições, o corretor de imóveis de Santo André (SP) Robson Leiva Lazarini ficou assustado e procurou ajuda na religião – primeiro católica, depois batista. Também criou o blog Sonhos Premonitórios (www.premonitoriosonho.blogspot.com), no ano passado. “As pessoas me mandam e-mails para tirar dúvidas. Não sou especialista, mas tento ajudar contando minha experiência.” Uma das que mais o impressionaram foi com um avião que tentava levantar voo no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, não conseguia, virava para a esquerda e batia num prédio baixo. No dia seguinte, foi buscar um cliente no aeroporto e ficou com muito medo que acontecesse algo com o jatinho dele. Quando o cliente aterrissou, respirou aliviado. Minutos depois, o avião da TAM, voo 3054, colidiu com o prédio da própria empresa após tentar arremeter num dia chuvoso. Lazarini ficou arrasado. “Mas o que eu posso fazer com esses sonhos? Ligar para a Anac e avisar? Não sei o que fazer com eles, então resolvi pelo menos registrar os mais recentes no blog.”
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REDE
O corretor Robson Lazarini conta suas premonições,
como a de um acidente de avião, em um blog
A paulistana Carolina Oliveira, 33 anos, gerente de marketing , também foi buscar ajuda para lidar com os eventos estranhos que rondavam sua vida. Há dois anos, ela passou a se sentir parte de um roteiro de filme do além. Luzes que acendiam logo após ela ter apagado, barulhos estranhos e fortes intuições do que estava para acontecer – a tal premonição. Quando morava na Itália, uma amiga apresentou um casal e ela, na mesma hora, sem nenhuma informação, viu os dois se separando em pouco tempo. A amiga negou e disse que eles se davam muito bem. Três meses depois, aconteceu o rompimento. “No começo eu tinha muito medo”, recorda Carolina. “Por isso procurei o espiritismo.” Hoje, ela atribui todos os acontecimentos aos espíritos que a guiam e ajudam no dia a dia. E garante que a vida ficou melhor ao saber lidar com esses episódios.
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REAL
A arquiteta Silvia Arruda anteviu a traição
do namorado e o advento do Plano Cruzado
“Não existe, até hoje, um estudo que comprove como isso acontece biologicamente. É metafísico e não sabemos como se dá. Mas é inegável que é importante como um processo de autoconhecimento”, destaca o neurologista Luciano Ribeiro, do Instituto do Sono, de São Paulo. Foi essa preocupação que levou a psicóloga Fátima Regina Machado a fazer sua tese de doutorado “Experiências Anômalas na Vida Cotidiana”, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 2010. Segundo ela, o objetivo era justamente chamar a atenção da comunidade acadêmica e dos profissionais da saúde para a importância das percepções extrassensoriais. “Compreendê-las é auxiliar o ser humano a lidar com elas”, destaca. Afinal, argumenta a psicóloga, mesmo sendo um tema marginalizado pela academia, são eventos que “insistem em acontecer” desde que o mundo é mundo.
Na vida da funcionária pública alagoana Maria Erilene Pereira, premonições e fortes intuições insistem em acontecer há algum tempo. Como quando, relaxando em uma rede, ela teve um insight com o filho mais velho, que havia saído com o carro à noite pela primeira vez. Erilene teve uma visão de um sinal próximo de sua casa. Sentiu um aperto no peito e ficou com receio de que acontecesse algo quando o filho passasse por ali. Ligou para ele e pediu que voltasse para casa. O jovem tentou acalmá-la, dizendo que estava tudo bem. Horas depois, ligou, aflito: havia batido o carro naquele local. “Tivemos sorte, só o veículo sofreu danos sérios. Ele ficou bem”, relembra. Muito pior foi o sonho no qual um de seus cunhados recolhia pedaços de um corpo após um acidente de carro. Dois meses depois ela perdeu um outro cunhado numa batida. E aquele do sonho, que recolhia os pedaços, foi o primeiro a chegar ao local do acidente. Os eventos ajudaram Erilene a cuidar de sua espiritualidade e se sintonizar mais com sua intuição. “Isso me ajuda a me conhecer melhor.”
Rory Coker, o físico americano que se dedica a denunciar os malefícios da pseudociência, acredita que tudo não passa de probabilidades. “Se toda vez que um parente meu sofresse algo eu sentisse, aí sim seria um fenômeno a ser examinado. Mas isso acontece muito de vez em quando e, portanto, fica dentro das estatísticas”, diz. No entanto, ele admira a coragem de pesquisadores como Daryl Bem. “É saudável que existam cientistas rebeldes que estão sempre imaginando como trilhar novos caminhos, por mais ­absurdos que eles soem aos nossos ouvidos.” Não à toa, Bem termina seu trabalho citando o diálogo da Rainha Branca e de Alice que abrem esta reportagem. O professor diz que 34% dos psicólogos que estão nas universidades concordam com Alice. E finaliza: “Quem sabe esse estudo não incentive os outros 66% dos meus colegas a investigar ao menos uma coisa anormal por dia.” Afinal, premonições são como as bruxas. Você pode até não acreditar nelas, mas que elas existem, ah, existem.
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No dia 5 de setembro de 2001, o médium irlandês Zak Martin descreveu uma visão assustadora: “Na última semana, tive uma premonição muito nítida de um avião – parecido com uma aeronave comercial de passageiros – colidindo num arranha-céu e explodindo em chamas. Acho que é nos Estados Unidos – possivelmente Chicago”. O relato de Martin foi enviado para o Registro de Premonições Psíquicas, uma entidade de parapsicologia do Reino Unido. Seis dias depois, não apenas um, mas dois aviões comerciais foram jogados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Como se sabe, ambos explodiram e cobriram de fogo e fumaça os prédios mais altos daquele país, que acabaram ruindo e virando uma pilha de vidro, concreto e aço. Coincidência? Previsão do futuro? Levando-se em conta que Martin, aparentemente, nada tinha a ver com a Al Qaeda, o grupo terrorista acusado de promover o atentado, e contou o sonho quase uma semana antes da tragédia, a história rapidamente se transformou num badalado caso de precognição. Fenômeno mais freqüente da paranormalidade, precognição é o nome que os parapsicólogos dão para a premonição, o conhecimento prévio do futuro sem dados do presente que permitam a dedução do que vai acontecer. Todos os dias, dezenas de pessoas relatam fatos desse tipo. Muitos caem no esquecimento, sem nunca serem confirmados. Outros se materializam, com uma espantosa perfeição de detalhes, e enchem páginas de jornais, revistas, livros e sites de parapsicologia. Quanto mais universal a história, mais fácil de ganhar fama.

É o que aconteceu com o pintor americano Charles Burwell. Em setembro de 2000, ele terminou de pintar um quadro em estilo surrealista de 60 por 84 centímetros. A obra tinha tudo para permanecer anônima fora da turma das artes plásticas, não fosse um bizarro detalhe: em vez de relógios derretidos como os de Salvador Dalí, Burwell desenhou a imagem de um prédio coberto pelo que parece ser uma nuvem de fumaça em forma de sorvete de casquinha, destacando-se no horizonte de uma metrópole. Exatamente um ano depois, o próprio pintor se surpreendeu com a semelhança entre a tela e as fotografias das torres gêmeas queimando, publicadas no mundo todo. “O simbolismo de minha pintura lembrou-me quase imediatamente o 11 de setembro”, escreveu o artista em seu site pessoal. “Mesmo depois dessa formidável coincidência, não estou certo se tenho ou não habilidades precognitivas.”

Independentemente da explicação, a tela foi batizada de Omen, ou “presságio”, em português. Afinal, Burwell pode ter tido uma precognição? Qualquer pessoa pode pressentir o futuro diante de seus olhos? “As faculdades parapsicológicas, todos têm, mas ninguém as domina”, afirma o padre Oscar Gonzalez-Quevedo, um dos mais polêmicos parapsicólogos do Brasil. Assim, num momento de desequilíbrio, febre alta, dor de cabeça ou sonho, você poderia ver detalhadamente alguma coisa que ainda vai acontecer. Como envolve fortíssimas doses de emoção, as precognições normalmente estão relacionadas a acidentes, desastres e más notícias em geral.



Salvos por um sonho

Não é por acaso que o naufrágio do Titanic, uma das mais célebres tragédias do século 20, seja acompanhado de diversas histórias de pessoas que pressentiram a viagem sem volta do transatlântico. O empresário inglês J. Connon Middleton havia reservado passagens para ele e a família. Dez dias antes do embarque, ele sonhou com um navio de quilha para o ar, rodeado por passageiros e bagagem boiando. Para não assustar os parentes, ficou quieto. Mas o sonho se repetiu na noite seguinte. Middleton resolveu adiar a passagem, pois a viagem não era urgente, e contou tudo para três amigos. Na fatídica noite de 14 de abril de 1912, o Titanic bateu num iceberg e afundou no Atlântico Norte, matando 1500 pessoas, entre passageiros e tripulantes. Middleton relatou o caso para a Sociedade de Parapsicologia de Londres, acompanhado dos passaportes, das reservas e de uma carta com o testemunho assinado dos amigos. Dias depois, novos registros foram aparecendo. O marinheiro Colin MacDonald, por exemplo, recusou a função de subchefe de máquinas do Titanic por causa de um presságio de desastre.

Em alguns casos, foi pura superstição, como os milionários J. P. Morgan e George W. Vanderbilt, que admitiram ter cancelado as passagens por medo de estar na viagem inaugural de um navio. Em outros, faltavam detalhes que pudessem relacionar os sonhos e as precognições ao acidente do Titanic. Se o problema são os detalhes, a história do escritor inglês Morgan Robertson é de arrepiar. Em 1898, ele publicou um romance sobre o naufrágio de um grande navio, que ocorria num mês de abril, após chocar-se com um iceberg no norte do Atlântico. Metade dos passageiros morria por falta de botes salva-vidas, tal qual ocorreria com o Titanic. Mera coincidência ou terrível premonição, o livro chamava-se Futility or the Wreck of the Titan (“Futilidade ou o Naufrágio de Titan”, sem versão para o português). Robertson não viajou no Titanic, logo, não virou personagem da própria ficção.

Já o jornalista inglês W. T. Stead não teve a mesma sorte. Até 1912, ele tinha publicado várias histórias, entre as quais o conto “O Fantasma Branco do Desastre”, a respeito de navios que afundavam no oceano e os passageiros morriam à deriva. Stead se interessava pelo sobrenatural e visitou alguns médiuns, em busca de novas idéias fantásticas para os seus textos. Nesses contatos, três deles teriam avisado sobre o acidente do Titanic, com premonições como “será perigoso viajar no mês de abril de 1912” ou “você estará no meio de uma catástrofe na água”. Mesmo assim, Stead embarcou naquela primeira e última travessia do Titanic. E, como costumava narrar em seus livros, foi um dos que morreram no mar porque não havia botes suficientes para todos. Embora fossem escritores de ficção, Robertson e Stead teriam visto o futuro? Ou foram vítimas casuais da própria imaginação literária?

Os céticos citam um dado comum a esses acontecimentos: todos se referem a preocupações de suas épocas. No começo do século 20, quando os navios dominavam o transporte de pessoas de um continente para outro, preocupar-se com naufrágios era tão comum quanto temer um atentado aéreo nos dias de hoje, quando os turistas preferem o avião. A pergunta racional seria: por que ouvimos poucas premonições de tragédias marítimas no século 21 em comparação às visões de Boeings explodindo no ar? Nesse caso, Robertson e Stead teriam apenas denunciado um fato daqueles anos: as empresas marítimas descuidavam da segurança. Em 1998, a inteligência americana alertou a Casa Branca para a possibilidade de ataques terroristas, com o uso de aviões, dentro dos Estados Unidos. O relatório estava certo, como comprovou o atentado de 11 de setembro, e não foi feito por uma equipe de precognitivos. No site Dicionário do Cético (brazil.skepdic.com), o americano Robert Todd Carroll cita a lei dos números muito grandes. Essa lei diz que, numa amostra suficientemente grande, muitas coisas estranhas demais para parecerem coincidências são prováveis e nada estranhas. “Digamos que a possibilidade de uma pessoa sonhar com a queda de um avião, e um cair no dia seguinte, seja de 1 para 1 milhão. Com 6 bilhões de pessoas tendo em média 250 temas de sonho por noite, devem existir 1,5 milhão de pessoas por dia tendo sonhos que parecem clarividência”, escreve Carroll. A análise cética utiliza também a regra do efeito Forer – quanto mais vagos forem o sonho, a premonição ou a predição, mais exatos eles parecerão.

Na parapsicologia, a precognição só é reconhecida se a pessoa não tiver informações no presente que permitam a dedução do futuro. Em 1915, Edward Bowen, um bem-sucedido vendedor de calçados de Boston, nos Estados Unidos, estava com bilhete comprado para embarcar no luxuoso transatlântico britânico Lusitania. Na véspera da viagem, ele sentiu uma súbita preocupação e resolveu ficar. “Um sentimento cresceu dentro de mim de que algo ia acontecer ao Lusitania. Conversei seriamente com minha esposa, e decidimos cancelar nossa passagem, apesar de eu ter um negócio importante marcado em Londres”, contou a amigos, na ocasião. Um dia antes da partida, os tripulantes do Lusitania interpretaram como mau agouro a fuga do mascote do navio, um pequeno gato preto. Em 7 de maio de 1915, um torpedo alemão afundou o Lusitania. Naquele ano, Grã-Bretanha e Alemanha combatiam em lados opostos na Primeira Guerra Mundial. Os jornais dos Estados Unidos publicavam anúncios da embaixada alemã alertando que os viajantes deveriam assumir os riscos de atravessar o Atlântico. O clima era hostil, mas ninguém imaginava ataques a navios de passageiros. A Marinha alemã pensou diferente, matando 1200 pessoas que estavam a bordo do Lusitania. Bowen teve uma premonição verdadeira ou estava influenciado pelas notícias vindas do front? O comerciante estaria impressionado com os perigos de viajar para a Europa durante a guerra ou pressentiu a tempo a tragédia? Para céticos ou não, a única certeza é que Bowen e a mulher sobreviveram.



Central de premonições

Apesar das centenas de precognições vagando pelo planeta, ninguém consegue evitar os desastres a tempo. Primeiro, porque é preciso acreditar que um sonho seja premonitório e não um pesadelo causado pelo jantar. Segundo, porque é impossível determinar se a visão de um acidente vai se tornar realidade. Em 1967, o psiquiatra J. C. Barker criou o Escritório Britânico de Premonições, na Inglaterra, com a proposta de centralizar as experiências precognitivas. Qualquer um que tivesse sonhado ou pressentido um evento podia telefonar para o escritório e relatá-lo. A idéia de Barker era simples: se um número considerável de pessoas descrevesse situações parecidas, ele poderia construir um sistema de alerta e prevenção de desastres. Em seis anos, foram recebidas 1 206 ligações. Poucas pareciam conter premonições verdadeiras de assuntos de interesse público, além de serem feitas normalmente pelas mesmas pessoas. Barker não conseguiu estabelecer um padrão claro de repetições ou uma quantidade considerável de registros de um único evento. Ainda que tenha obtido algum sucesso em antecipar determinados fatos, o escritório foi incapaz de evitar qualquer tragédia e fechou. Hoje existem trabalhos similares, como o da entidade para a qual Zak Martin comunicou a visão do 11 de setembro, que apenas registram as precognições. Entretanto, continua-se não conhecendo alguém que impediu uma catástrofe a tempo.



Está tudo escrito?

Algum dia será possível prevenir um acidente baseado num relato de precognição? “A precognição é o conhecimento direto do futuro”, afirma o padre Quevedo, do Centro Latino-Americano de Parapsicologia. “Se o fato for evitado, foi uma falsa precognição.” Por isso, segundo a parapsicologia, as tragédias previstas não poderiam ser evitadas. No filme Minority Report – A Nova Lei, de Steven Spielberg, baseado no livro do escritor americano de ficção científica Philip K. Dick, três jovens precognitivos visualizam os assassinatos antes de eles acontecerem. Com a informação em mãos, os policiais de Washington prendem os criminosos antes do crime. Seguindo o raciocínio dos parapsicólogos, como os crimes não ocorriam, os três precognitivos erravam todas as previsões. Se eles erravam, os acusados não se tornariam assassinos.

Claro que o livro e o filme Minority Report são obras de ficção, mas a explicação parapsicológica das precognições questiona a viabilidade de usar paranormais na investigação de crimes. Simplesmente porque as visões não escolhem hora para aparecer. “As precognições são fenômenos espontâneos e incontroláveis”, diz Quevedo. O padre ficou famoso como caçador de falsos paranormais e virou um dos maiores inimigos de videntes, adivinhos e futurólogos em geral que garantem dominar poderes extra-sensoriais de precognição, clarividência e telecinese, entre outros.

Se pode fazer o cérebro humano acertar o futuro, a percepção extra-sensorial tem pelo menos uma limitação, conforme a parapsicologia. As precognições são sempre relacionadas ao nosso conhecimento do mundo e dentro de um prazo existencial de dois séculos, para frente ou para trás. Por isso, ninguém conseguiu acertar previsões sobre outros planetas já visitados por sondas terrestres ou decifrar um hieroglifo por meio da retrocognição – a capacidade de ver o passado. Com tantos estudos sobre o assunto, o que falta para a precognição ser reconhecida como um fenômeno verdadeiro? A resposta está na estatística, a grande divergência entre céticos e parapsicólogos. Ao seu modo, cada um interpreta os números de premonições que se materializaram. Voltemos ao caso de Zak Martin. No mesmo relato de 5 de setembro de 2001, no qual antecipou o avião batendo no arranha-céu, o médium irlandês descreveu outras duas visões: “Eu também prevejo duas mortes na família real, uma logo depois da outra” e “Tenho a impressão de uma tentativa de assassinato do líder palestino Yasser Arafat. Não tenho certeza, mas acho que envolve uma explosão”. Como se sabe, a rainha-mãe britânica Elizabeth morreu no dia 29 de março de 2002, menos de dois meses após a morte da filha, a princesa Margaret. Já Yasser Arafat morreu, internado num hospital militar na França, no dia 11 de novembro de 2004. Dois acertos em três previsões indicam coincidência, sorte ou precognição? Depende do lado em que você estiver.




Na onda do Tsunami
Médium americana diz ter antecipado a catástrofe das ondas gigantes na Ásia. E arrisca outros prognósticos

Em outubro de 2004, a médium americana Sylvia Browne disse num programa de TV que os turistas, por questões de segurança, deveriam evitar ir à Índia. Sua previsão era muito vaga, como costumam ser as profecias desse tipo (a médium não explicou o que queria dizer com as tais “questões de segurança”). O fato é que, dois meses depois, no dia 26 de dezembro, parte da Índia foi atingida pelo tsunami, a onda gigante causada por um maremoto no sul do Pacífico. Rapidamente, Sylvia contabilizou o desastre como mais uma das premonições da sua bem-sucedida carreira de vidente. Para os céticos, no entanto, faltou mencionar o maremoto, o tsunami e a Indonésia – de longe, o país mais castigado pela catástrofe.

No dia 29 de dezembro, Sylvia foi novamente à TV para dizer que os astros Brad Pitt e Jennifer Aniston, um dos casais mais famosos de Hollywood, iriam se separar. O programa fora gravado no dia 8 de dezembro. Quase um mês depois, no dia 7 de janeiro deste ano, Brad Pitt e Jennifer Aniston anunciaram o fim de seus quatro anos de casamento.

Sylvia ganha a vida dando palestras e escrevendo livros de auto-ajuda. Algumas de suas obras viraram best sellers nos Estados Unidos e foram publicadas no Brasil, como O Outro Lado da Vida (Sextante, 2000) e A Vida no Outro Lado (Sextante, 2001). Em 2001, a médium aceitou colocar seus poderes à prova do cético e caçador de paranormais James Randi – até hoje ela não se apresentou para o desafio.

Para quem prefere acreditar nos poderes mediúnicos de Sylvia, convém anotar algumas previsões que ela faz para os próximos cem anos (veja mais no site www.sylvia.org):

• O câncer vai ser erradicado e, se isso não bastasse, será desenvolvida uma nova forma de extração de dentes sem dor, usando um método de sucção.

• Alienígenas farão contato conosco em 2010 (não se preocupe, pois eles não nos farão mal – querem apenas observar o que estamos fazendo com nosso planeta).

• A paz finalmente chegará ao Oriente Médio, mas ainda precisaremos aguardar até o ano 2050.

• Em 2055, a maioria das pessoas viverá em cidades dentro de domos, devido às “pobres condições atmosféricas”.

• Ainda neste século, os Estados Unidos deixarão de ter um presidente e passarão a ser administrados pelo Senado.

• Não haverá mais somente um papa, mas três – cada um responsável por uma determinada região do mundo católico.
• O planeta viverá em paz por volta de 2050 a 2100 – depois disso, Sylvia não põe a mão no fogo (“Não vejo nada além, o que pode significar que ‘o fim virá como um ladrão na noite’”, afirma a médium em seu site).



As Reportagens acima são da revista Super Interessante! Espero que tenham gostaod!1

Até a Parte 4

3 comentários:

  1. Muito legal!! =D
    Já tive sonhos comuns que envolvia futuro, me lembro de ter visto um colega que iria fazer teste de carro e que eu faria o trabalho no lugar dele. Meses depois esta situação aconteceu igualzinho no sonho= ele foi no teste de carro e faltou no colégio, e eu fiz a apresentação de trabalho por ele!!

    Sonhei com o fim do mundo também... a lua vermelha, meteoros. Podem registrar, mas tomara que nunca aconteça. Foi muito real. x.x

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  2. Nossa, muito bom o especial, adorei. ^^"

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  3. max eu gostaria de saber se o premonição 5 3D que voçe postol e azul e vermelho

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